No coração do Albaicín, o Palácio de Dar al-Horra ergue-se como um dos raros exemplos de arquitectura doméstica andalusa que chegaram até aos nossos dias em Granada. O seu nome, que significa “Casa da Honesta”, faz referência a Aixa al-Horra, mãe do último sultão de Granada, Boabdil, que aqui residiu depois de ter sido repudiada por Muley Hacén.
O palácio encontra-se na antiga Alcazaba Qadima, o primeiro núcleo fortificado do Albaicín. Algumas investigações sugerem que esta residência poderá ter feito parte originalmente do palácio do sultão zírida Badis, o que levaria a sua história a recuar até aos séculos XI e XII.
Por detrás das suas paredes sóbrias e quase anónimas, o visitante descobre um interior delicado e elegante, um exemplo perfeito da vida cortesã nasrida. Hoje, o Palácio de Dar al-Horra é uma janela aberta para o esplendor quotidiano do último reino muçulmano da Península Ibérica.
O Palácio de Dar al-Horra foi construído no século XV. Aixa al-Horra, esposa legítima de Muley Hacén, passou a residir aqui depois de ter sido repudiada pelo sultão em favor da escrava cristã Isabel de Solís, convertida ao islão com o nome de Zoraya. Esta situação desencadeou um conflito interno que marcou o último período do reino. Enquanto Muley Hacén se instalava na Alhambra com a sua nova esposa, Aixa e Boabdil foram relegados e acabaram por mudar-se para o Albaicín, onde contavam com amplo apoio popular.
A posição estratégica do edifício, situado na parte mais alta do bairro, permitia dominar visualmente a cidade, controlar os caminhos que chegavam a Granada e observar as torres e os palácios da Alhambra. Esta vantagem revelou-se fundamental num contexto de crescente tensão política.
O povo de Granada via Zoraya com desconfiança, pois a escrava cristã se tinha tornado a favorita de Muley Hacén. Para muitos granadinos, era inconcebível que uma mulher de origem cristã pudesse adquirir um papel tão relevante na corte nasrida, especialmente se isso colocava em risco os direitos sucessórios de Boabdil. A sua mãe, Aixa al-Horra, não estava disposta a permitir que os filhos de Zoraya deslocassem o seu próprio filho do trono.
Decidida a proteger a legitimidade de Boabdil, Aixa aliou-se à poderosa família dos Abencerrajes, uma das principais facções aristocráticas do reino. A partir da sua residência em Dar al-Horra, impulsionou a oposição a Muley Hacén, alimentando o clima de tensão que culminou numa autêntica conspiração contra o sultão.
Como resultado, em 1482 a situação explodiu. Parte da nobreza proclamou Boabdil como sultão no Albayzín, desafiando abertamente a autoridade de Muley Hacén. A resposta do sultão foi imediata: mandou prender o filho e encerrá-lo nas masmorras da Alhambra.
A captura de Boabdil intensificou a revolta. Os partidários de Aixa e os Abencerrajes levantaram-se contra Muley Hacén, obrigando-o finalmente a retirar-se para Málaga e outros territórios sob o seu controlo. A insurreição alcançou o seu objetivo: Boabdil foi reconhecido como sultão por uma parte significativa do reino, embora a sua autoridade coexistisse paralelamente com a do seu pai e, mais tarde, com a do seu tio, El Zagal.
Este conflito entre facções marcou o início de uma prolongada guerra civil que fraturou o reino nasrida no seu momento mais crítico. A divisão interna enfraqueceu fatalmente Granada, precisamente quando a ofensiva castelhana se intensificava, acelerando a queda definitiva do último reino muçulmano da Península Ibérica.
Após a conquista de Granada pelos Reis Católicos, em 1492, o monumento foi entregue ao secretário real, Hernando de Zafra.
Posteriormente, em 1507, a rainha Isabel fundou o Mosteiro de Santa Isabel la Real, que foi entregue às freiras clarissas. O palácio integrou-se no conjunto conventual, sofrendo diversas modificações que, no entanto, preservaram grande parte da sua estrutura nasrida original.
Ao contrário de muitos outros conventos que foram expropriados durante a Desamortização de Mendizábal em 1835, Santa Isabel la Real não só conservou o seu património, como cresceu com os bens provenientes de outros estabelecimentos religiosos.
A importância histórica de Dar al-Horra foi finalmente reconhecida em 1922, quando foi declarado monumento histórico-artístico. A sua recuperação começou em 1931, pela mão do arquiteto da Alhambra, Leopoldo Torres Balbás, que iniciou as primeiras restaurações para devolver ao edifício a sua aparência original—sóbria, mas elegante—, um trabalho continuado por outros arquitetos ao longo do século XX até alcançar o aspeto atual.
Apesar das transformações associadas à vida conventual, o Palácio de Dar al-Horra conserva grande parte da sua estrutura original e a elegância dos elementos decorativos nasridas. Trata-se de uma casa nasrida que segue o estilo das da Alhambra e que serviu de inspiração para as casas mouriscas do Albaicín.
As inscrições em estuque do miradouro revelam o carácter íntimo da residência. Nelas podem ler-se frases como “Bênção”, “Felicidade”, “A saúde é perpétua” e “A alegria continua”.
O palácio organiza-se em torno de um pátio rectangular com alberca, orientado no sentido norte-sul. Os pórticos norte e sul abrem-se com três arcos em ferradura apoiados sobre colunas, sendo o arco central o maior. Os tetos de madeira destes pórticos são planos e decorados com motivos geométricos. Por trás das galerias de arcos encontram-se as principais salas, caracterizadas pelos seus tetos altos. A sala do lado sul foi utilizada como capela do convento antes da construção da atual igreja de Santa Isabel la Real.
O piso superior do palácio conserva ainda a essência de uma casa nasrida e, a partir dele, podem ser contempladas vistas impressionantes sobre o barrio de Axares, a igreja de San Cristóbal (onde se situava a antiga mesquita) e a muralha zirí.
O palácio possui também uma pequena horta, irrigada pela água da acequia de Aynadamar, proveniente do Aljibe del Rey. Este sistema hidráulico, um dos mais antigos e emblemáticos de Granada, liga o palácio à história viva da água na cidade e ao engenhoso urbanismo nasrida.
Horário de visita:
De 15 de setembro a 30 de abril: de segunda-feira a domingo, das 10:00 às 17:00.
De 1 de maio a 14 de setembro: de segunda-feira a domingo, das 09:00 às 14:30 e das 17:00 às 20:30.
Existem dois tipos de bilhetes:
- Bilhete “Monumentos Andalusíes”, que inclui, além da visita ao Palácio de Dar al-Horra, a entrada no Corral del Carbón, no Maristán e na Casa Morisca Horno de Oro (C/ Horno de Oro).
- Bilhete “La Dobla de Oro”, que dá acesso aos monumentos andalusinos de Granada: o Bañuelo, o Corral del Carbón, o Maristán, as casas mouriscas (Horno de Oro, Casa de Zafra e Casa del Chapiz), a Qubba do Cuarto Real de Santo Domingo, o Palácio de Dar al-Horra e o bilhete “Alhambra General”.
A entrada na Alhambra está sujeita ao horário específico de acesso aos Palácios Nasridas — o mesmo que se aplica ao bilhete Alhambra General —; este horário é rigoroso, não permite atrasos e é obrigatório apresentar o documento de identidade ou passaporte usado na compra do bilhete.
Para informações mais detalhadas, recomenda-se consultar os sites oficiais dos monumentos.
É a forma mais simples e cómoda de chegar ao monumento. Desde o centro da cidade, o percurso demora cerca de 20 a 25 minutos, passando por Reyes Católicos e Gran Vía ou pela Calle Cárcel Baja. Se o ponto de partida for a Plaza Nueva, os percursos mais curtos são pela Calle Cruz de Quirós, pela Cuesta de San Gregorio ou pela Calle Elvira.
Devido às restrições do bairro e às ruas estreitas do Albaicín, a melhor opção é subir pela Carretera de Murcia. Pode estacionar no Parque de Estacionamento San Cristóbal Albaicín, junto ao colégio Ave María San Cristóbal, ou em alguma zona de estacionamento livre nas proximidades. A partir daí, a caminhada até ao monumento demora cerca de 9 a 10 minutos.
Da Plaza Nueva partem duas linhas de autocarro: C31 e C32. Deve sair na paragem Plaza de San Nicolás e caminhar alguns minutos até ao monumento.
O táxi também é uma opção cómoda; o preço varia consoante o local de partida e a hora do dia.
No bairro do Albaicín, perto do Palácio de Dar al-Horra, encontrarás alguns dos locais mais populares para experimentar a cozinha espanhola e os pratos típicos de Granada. Na Placeta de San Miguel situa-se o Mesón El Yunque, ideal para desfrutar numa esplanada de tapas e doses como caracóis, plato alpujarreño, rabo de touro ou peixe frito. Na Plaza Larga encontra-se o Restaurante Los Nazaríes. Na Calle Pagés está o Restaurante Casa Torcuato, especializado em peixe frito e vinho da região desde 1932. Muito perto fica o Bar la Entraiya, conhecido pelas suas tapas e doses tradicionais, como caracóis ou peixe frito. Na mesma rua encontra-se o restaurante Casa Gabriel, especialista em grelhados. Também a pouca distância fica o Bar Aliatar Los Caracoles, ideal para saborear tapas e pratos como caracóis em molho ou berinjelas com mel na sua ampla esplanada.
Recomendamos verificar os horários, a disponibilidade e as avaliações mais recentes antes da visita.
Pela sua localização, mesmo ao lado do Palácio, a primeira visita natural é o Monasterio de Santa Isabel la Real, fundado no século XVI e um dos conjuntos monásticos mais singulares do Albaicín.
Na Plaza de San Nicolás esperam-te a célebre igreja e o Miradouro de San Nicolás (Mirador de San Nicolás), um ponto imprescindível para contemplar uma das panorâmicas mais conhecidas da Alhambra. Perto da praça encontra-se o Carmen de los Geranios – Casa Museo Max Moreau, um espaço intimista e cheio de encanto.
Outro miradouro próximo é o de San Cristóbal, de onde poderás contemplar a muralha zirí da antiga Alcazaba Qadima, o próprio Palácio de Dar al-Horra em primeiro plano, bem como a Alhambra, o Albaicín e toda a cidade de Granada.
Se continuares a passear pelo Albaicín, descobrirás recantos cheios de autenticidade, como a Placeta de Carvajales —com outra belíssima vista da Alhambra—, a Igreja de San Juan de los Reyes ou espaços históricos como o Aljibe del Rey e o seu Carmen. O Aljibe del Rey é um dos reservatórios de água mais antigos da cidade.
Se continuares em direção ao Albaicín Baixo, podes descer a Cuesta del Chapiz até ao Paseo de los Tristes e à Carrera del Darro. Nesta zona poderás ver monumentos como o Maristán (antigo hospital nasrida) ou o Bañuelo. Se o teu destino for o centro pela Calle Elvira, encontrarás pontos indispensáveis como a Porta de Monaita (Puerta de Monaita) ou a Porta de Elvira (Puerta de Elvira).
Ao continuares em direção ao centro, não podes perder locais como a Plaza Nueva e a Chancelaria Real (Real Chancillería), a Catedral de Granada e a Capela Real (Capilla Real), a Plaza Bib-Rambla ou o Corral del Carbón, entre tantos outros monumentos e recantos desta zona.
Utilizamos cookies propias y de terceros para ofrecerle nuestros servicios, mostrar vídeos, obtener estadísticas y ofrecerle publicidad personalizada.
Más información en nuestra política de cookies.